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sugata

Na primeira vez que entrei num dojô de Judô, aos 7 anos, a primeira coisa que reparei (talvez por estar vazio) foi na foto de um senhor de idade que ficava ao lado de um pequeno altar, ambos pendurados na parede.

Perguntei ao professor quem era aquele “velhinho” e ele me respondeu com reverência na voz: “Este é Jigoro Kano, o criador do Judô.”

Para muitos, essa história que escolhi para introduzir meu texto pode parecer boba, mas quem conhece o Judô entenderá os seus muitos significados. Todos os dojôs que visitei têm a foto de Jigoro Kano nas suas paredes. É a mesma foto, sempre: preto e branca, Kano Sensei usando um kimono preto ornado, em posição marcial, séria. O que mais me chama a atenção na foto é a maneira como ele olha para o dojô (realmente parece que ele, apesar de ter partido há muito tempo, está lá…). Seu olhar, ao mesmo tempo que parece paternal, é duro e severo.

Assim é o Judô: suave e leve, mas ao mesmo tempo forte e perigoso.

O livro desta dica (finalmente!) conta a história da criação dessa relativamente jovem arte marcial. Numa época em que o Japão abria seus portos e cidades à cultura e comércio ocidentais, a própria cultura do país se perdia em meio a adaptações de estilos, bebidas, comidas e entretenimentos.

A sociedade passa a se comportar e vestir-se de acordo com as convenções ocidentais. Os antigos valores passam a ser considerados ultrapassados e inadequados. Assim como as duas artes marciais símbolos da cultura japonesa: o Kenjutsu e o Jujutsu.

Em meio a toda essa revolução, que levava o Japão a deixar de lado seus valores, um professor resolve se opor a esse movimento. Estudioso do Jujutsu, ele passa a aprimorar os movimentos e golpes da luta, transformando-a em algo mais profundo, mais próximo aos valores e à filosofia dos samurais. A “arte” (jutsu), nas mãos de Shogoro Yano (o personagem que representa o mestre Kano) se transformou no “caminho” (do). Um caminho que, com suavidade, levaria o Japão de volta aos tempos em que era uma grande nação, orgulhosa de sua cultura milenar.

Os outros personagens que vão se juntando a Yano durante o livro são fictícios, porém inspirados em pessoas reais, que fizeram o Judô se tornar uma arte marcial poderosa e mundial. O único que foge a essa regra é o personagem título, Sanshiro Sugata. Jovem, rebelde, sangue quente e pavio curto, Sugata, apesar de ser o único personagem 100% fictício, é o perfeito retrato do Judô. No desenrolar da estória, ele vai se tornando maduro, disciplinado e perfeito: o fiel depositário da nobre missão iniciada por Yano.

O livro é uma verdadeira lição de força, perseverança, brio e determinação, ao mesmo tempo que ensina que leveza, pureza e honra são atributos complementares e indissociáveis dos anteriores. Assim como o símbolo escolhido para representar o Kodokan (dojô fundado por Kano na vida real e por Yano no livro).

Agora, algumas curiosidades:

– Foi esse o livro que inspirou ninguém menos que Akira Kurosawa, em 1943, a rodar o seu primeiro filme, o também Sanshiro Sugata;

– Tsuneo Tomita, o autor, é filho do primeiro discípulo de Jigoro Kano;

– O temível yama-arashi não é ficção. É um golpe real, poderosíssimo e atualmente usado com muita restrição;

– O símbolo que representa o Kodokan é… Ah! Leia o livro e, depois, leia o livro escrito pelo próprio Kano Sensei, que resenharei em breve;

– O original foi editado em japonês (claro!) e só foi traduzido para o português;

– O livro não é vendido em qualquer livraria. Um dos lugares que vende é esse aqui. Se não tiver mais e se estiver interessado, passo outros caminhos das pedras. É só me escrever.

Essa dica de leitura é sobre uma porção de outras dicas de leitura.

O blog Canto dos Livros, comandado pelo Rodrigo Casarin, como o próprio nome sugere, fala sobre… LIVROS, claro!

O Rodrigo foi aluno do Curso de Jornalismo da UniSant’Anna e pós-graduando em jornalismo literário. Por isso, não preciso nem dizer que é alguém bem mais competente para resenhar sobre livros do que este que vos escreve.

Das quatro resenhas postadas (até agora), três são do seu antigo blog. A última, sobre o “Elogio da Madrasta”, do Vargas Llosa já dá uma amostra da evolução do texto do Rodrigo, se compararmos aos três primeiros. O que não quer dizer que as antigas não são boas, claro.

Recomendadíssimo, com força e com eco.

Tá aí um dos livros que me inspirou na adolescência.

Pode parecer loucura, mas li Rubem Fonseca pela primeira vez aos 17 anos. Digo isso, pois nenhum dos meus alunos dos últimos primeiros semestres tinha ouvido falar nele. Justo ele.

Rubem Fonseca tem um estilo literário complexo, ao mesmo tempo professoral. A escrita dele é impecável, com um português que dá gosto de ler. Correto, direto e contundente.

E é assim que é contada a misteriosa estória em que o protagonista Mandrake, um advogado criminalista, se envolve. Uma fita VHS, prostitutas assasinadas, personagens estranhíssimos. Mandrake passeia por diversas localidades, sempre amarrado por esses detalhes, sofrendo atentados, perseguindo bandidos e buscando a solução para mistérios que, por sua vez, são unidos pela arte do Percor (perfurar e cortar) e seus praticantes.

O livro alterna sua velocidade da intensamente alucinante para a letárgica introspectiva, sem nunca cansar o leitor, que a cada página anseia por mais detalhes da trama e dos seus personagens. O livro tem um final surpreendente, apesar de a gente pegar muitos detalhes no decorrer da história, que acabam deixando um gostinho de “eu já sabia”.

Mandrake é um show à parte. Sempre achei que eu tinha muito em comum com ele, mas depois dos 30 descobri que quase todo mundo tem. Mas, mesmo depois dessa conclusão, continuo me identificando muito com o personagem em muitos aspectos.

Aliás, em 2005 a HBO Brasil produziu e exibiu uma série homônima, cujo protagonista é o advogado d’A Grande Arte. Foram duas temporadas,se não me engano e, apesar de não gostar do Marcos Palmeira como ator, até que ele se saiu bem.

A Grande Arte, bem como toda a obra do Rubem Fonseca, é uma leitura obrigatória para quem quer escrever bem. Aliás, é o tipo de escritor que facilita seguir a velha máxima que diz que, para se escrever bem, é preciso ler muito.

As Olimpíadas de Munique, em 1972, eram para ser conhecidas como as Olimpíadas da Paz.

Mas, em uma noite na vila olímpica, terroristas do Setembro Negro invadem os dormitórios dos atletas israelenses e os sequestram. O desfecho foi um dos episódios mais marcantes e tenebrosos do terrorismo moderno, que inclusive, segundo especialistas, colocou a causa palestina sob os holofotes.

Mas pouco se falou, durante um bom tempo, sobre a retaliação promovida por Israel às mortes de seus atletas naquele episódio fatídico. E é disso que fala a minha segunda dica no Letreria: A Hora da Vingança, de George Jonas. Esse livro inspirou Steven Spielberg ao filmar Munique e, antes dele, uma produção para a TV chamada Sword of Gideon.

Tanto o filme de Spielberg quanto o livro de George Jonas foram duramente criticados pela comunidade judaica, por proporem o que podemos chamar de “equivalência moral”, ou seja, palestinos e israelenses estão certos e errados, e ambos têm os seus motivos para fazerem o que fazem.

Mas, voltando ao livro em si, A Hora da Vingança conta como supostamente foi a ação de um grupo de extermínio, cujos elementos eram todos egressos da Mossad, cujo objetivo era eliminar 11 líderes terroristas (um para cada atleta israelense morto no episódio de Munique) espalhados pela Europa.

No desenrolar da estória, num mundo assombrado pela Guerra Fria e sua bipolaridade, a equipe passa a agir de maneira cada vez mais autônoma, sem deixar o foco da missão de lado, mas causando efeitos colaterais imprevisíveis.

Um dos pontos criticados no livro (e no filme Munique também) é a maneira como Avner, o líder do esquadrão de morte, é retratado. Muitos membros das forças de defesa israelenses discordam que ao realizar aquele tipo de missão, um agente israelense pudesse passar por crises existenciais e arrependimentos.

A quem se interessar, sugiro que leia (ao mesmo tempo ou depois, tanto faz) também Contra Ataque, de Aaron Klein. Esse livro foi escrito como um contraponto ao livro de Jonas. Klein é oficial israelense (provavelmente Mossad também) e foi um dos mais duros críticos ao Hora da Vingança. Vale a pena também dar uma sapeada complementar no documentário ganhador de um Oscar Um Dia em Setembro, para entender um pouco melhor o que aconteceu.

Tanto os dois livros, quanto os dois filmes são excelente para quem gosta de história e causos de guerra e espionagem, principalmente sobre o conflito árabe-israelense. Além de ajudarem a dissipar alguns conceitos equivocados.

Vou inaugurar o Letreria com o último livro que li. Na verdade, acabei anteontem de lê-lo.

Tomando um café na Livraria Nobel em Ribeirão Pires, acompanhado da patroa, minha herdeira e os padrinhos dela, comecei a fuçar os lançamentos. De repente, um título me chamou a atenção: A Besta.

Tem gente que vai falar que foi uma espécie de identificação, mas não. Alguma coisa no livro me dizia que iria ser uma puta viagem de se ler.

Escrito pelo jornalista Anders Roslund e pelo ex-criminoso (!!!) Börge Hellström, esse romance sueco editado aqui no Brasil pela Editora Planeta é uma montanha russa daquelas que só se vê no Bush Gardens. Ao terminar o livro (e quase todos os capítulos dele) senti que minhas tripas demorariam a voltar ao lugar.

Numa narrativa que mistura primeira e terceira pessoas, o livro conta o caso de um assassino/estuprador de crianças que escapa da prisão e continua sua trilha doentia. O pai de uma das vítimas resolve fazer justiça com as próprias mãos, criando uma bola de neve que desce a ribanceira vertiginosamente, cada vez maior, enquanto dois policiais fazem malabarismos para acompanhar os acontecimentos e desvendá-los.

O livro é frenético, intenso assustador e, em muitos momentos, até enjoativo. Mas vale cada página lida. Um livro que é leitura obrigatória para quem gosta de histórias policiais, mas que está de saco cheio das mesmas tramas.

Aviso aos navegantes: o livro assusta mesmo. Vou deixar um petisquinho pra vocês:

“- Duas meninas, nove anos. Ele as amarrou, masturbou-se em cima delas, estuprou-as, cortou-as. Exatamente como já fizera antes. (…) O médico-legista disse que elas ainda estavam vivas quando foram dilaceradas, com objetos de metal na xoxota e no ânus. Eu não acredito.”

Como eu disse, não é uma leitura leve. Se tiver estômago, vale a pena encarar.

Meu bom amigo Rodrigo Motta é uma pessoa pra lá de culta.Nosso mestre, o Max, até o chama carinhosamente de “Cabeção”, devido a sua grande inteligência.

Entre outros predicados, o Motta inaugurou no seu círculo de amizades uma série de e-mails denominados Dica de Leitura. No seu blog, o A Guerra do Fim do Mundo, ele transcreve esses e-mails, falando sobre livros que leu e sobre sua importância na sua formação.

Inspirado por ele, e ciente que esse blog é lido por muitos estudantes, resolvi seguir seu exemplo e trazer à tona alguns dos livros que são responsáveis pela minha (de)formação. Alguns deles o Motta já escreveu sobre, assim, sugiro que consultem as dicas dele também.

Ultimamente tenho lido muitos livros sobre Comunicação, Publicidade e Propaganda, Marketing e infantis (sou pai, porra!). Mas colocarei aqui, também, livros sobre outros temas, senão fica chato demais.

Assim, declaro inaugurada a categoria Letreria, um tapão na nuca para estimular você a ler.

Espero que esses posts que em breve publicarei sejam de alguma valia.