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Faz uns três dias, estava discutindo a regulamentação das profissões com minha esposa e um casal de conhecidos. Só para situar o leitor no contexto, minha esposa é dentista e o casal era formado por uma advogada e um publicitário.

Tudo começou quando falávamos sobre a formação dos profissionais atualmente. A conclusão era que o ensino de base está cada vez pior (#fato) já há uns bons anos, o que fez com que poucos tivessem acesso ao ensino superior. Consequentemente, o Governo, pressionado pela sociedade civil, resolveu mexer nessa situação e facilitar a entrada de todos na Graduação em vez de, claro, tentar consertar a situação do ensino de base (“Aaah… Dá muito mais trabalho e precisamos de uma solução imediata e que acalme a população”).

Como nem todos tinham condições de pagar a altas mensalidades das particulares (já que as públicas são mais difíceis de entrar, mas… noutra hora falo sobre isso), algumas faculdades optaram por reduzirem suas mensalidades para atender a essa nova demanda. Mensalidades mais baixas significam menos dinheiro entrando no caixa, o que dá à mantenedora da Instituição de Ensino Superior (IES) duas opções: aumentar o número de vagas por processo seletivo, criando salas com mais de cem alunos; ou reduzir drasticamente seus custos. Tanto uma solução, como outra, são extremamente prejudiciais à formação do discente de Graduação.

Infelizmente, há dez anos, quando todo esse processo no ensino superior começou, ninguém previu isso (mesmo quando o maldito Murphy gritava de seu caixão). Apenas nos dias atuais é que podemos constatar (e viver) os resultados dessa enorme lambança.

Salas muito cheias significam salas mais difíceis de se ensinar. Os alunos se dispersam com muito mais facilidade e em maior quantidade. Em resumo, ou o professor se estressa, tentando sobrepor a sua voz e ensinamentos à bagunça, ou ele simplesmente desencana e dá uma aula meia-boca. No primeiro caso, o professor sempre pede demissão.

Se a mantenedora de uma IES com mensalidade popular não consegue encher uma sala com mais de 40 alunos, só lhe resta diminuir as despesas. Água, luz e impostos em geral continuam sendo cobrados periodicamente, sem choradeira. Onde reduzir os custos? No material humano. Horas-aula cada vez mais baixas têm sido pagas aos docentes nessas instituições. Alguns até conseguem aguentar, mas, com o tempo, procuram outras IES para dar aulas ou atividades profissionais paralelas. Pode não parecer, mas isso acaba gerando um altíssimo turnover, já que o docente procurará quem paga melhor (e possivelmente, dará prioridade a esse). Isso tudo resulta em diferentes professores dando a mesma disciplina a uma turma no mesmo semestre, professores que aceitam ministrar uma disciplina que não é sua e outras atrocidades que vemos nas salas de aula.

Enfim, voltando ao assunto do início deste post, após contar isso tudo ao casal de conhecidos, todos na mesa (menos minha esposa que conhece a situação de perto) ficaram chocados. Assim, concluí que TODAS as profissões deveriam ser controladas e normatizadas, principalmente aquelas que exigem uma formação superior. O casal e minha esposa concordaram, mas com uma ressalva: nem todas as profissões precisam disso.

De acordo com eles (sim, todos estavam em uníssono tecendo o raciocínio, menos eu, claro!), profissões como medicina, odontologia, farmácia, enfermagem e as demais da área de Biológicas, tinham mesmo que ser regulamentadas, devido à sua importância e ao fato de lidarem com a vida. Um erro qualquer e a vida seria prejudicada. Na hora, me veio a imagem de um quadro na sala de espera de um médico da minha adolescência, em que uma pessoa comum desfalecida era disputada por um esqueleto (representando a morte) e um garboso médico, todo paramentado, de jaleco, máscara e touca (e se não me engano, com o estetoscópio pendurado nos ombros).

Aí, eu perguntei se só as profissões das Biológicas eram tão importantes assim, a ponto de as outras poderem absorver qualquer incauto. A advogada saiu em defesa da classe. O exame da OAB é essencial, pois filtra aqueles que poderão lidar com a justiça, por terem sido bem preparados na academia, daqueles que só colaram na faculdade e jamais poderiam ter em suas mãos a vida de um cliente, que poderia ser preso, perder dinheiro, bens ou a guarda de um filho. Sim, uma gigantesca responsabilidade! Eu mesmo tenho muito a agradecer aos bacharéis em direito, sejam os advogados com OAB, sejam os juízes que foram justos ou os policiais (delegados, no caso) que cumpriram seu dever. (Na hora me veio à cabeça a imagem de um quadro com um advogado gritando, enquanto ampara um cliente desfalecido, com outro advogado. Entre eles, um juíz, garbosamente paramentado, apartando a briga, segurando seu indefectível martelo.)

No decorrer da conversa, lembramos de outras profissões, como Engenheiros, Arquitetos, Administradores, Jornalistas e, pasmem, Professores. Aí, como eu não poderia deixar quieto (e contava com a nobre presença de um irmão de profissão à messa), perguntei: “E os Publicitários? Não precisam de uma regulamentação?”

Claro que todo mundo deu risada. Até o colega de profissão (que depois descobri ser dono de uma Agência, o que explicou tudo). Começou, então o despejo de argumentos do tipo “se o publicitário errar, não mata ninguém, não acaba com uma vida”. Foi aí que eu trouxe a conversa para onde eu queria e que resultou neste post (finalmente, né, porra!).

Vou tentar reproduzir aqui o meu discurso. Tentar, pois já estava com umas duas ou 10 taças de vinho na cabeça.

De fato, nós publicitários não temos o mesmo “poder” de vida ou morte que os valorosos médicos ou o conhecimento necessário do bacharel em Direito para se fazer justiça. Mas, a cada ano, surgem mais e mais pessoas que nos acusam de sermos manipuladores, mentirosos e perigosamente sedutores (ui!). Ou seja, indiretamente, a sociedade como um todo considera a Publicidade (e os responsáveis por ela) um assunto importante e que merece atenção. Quantas campanhas são veiculadas diariamente? Quantas delas realmente cumprem o sua função, que é o de vender uma idéia, imagem, produto, serviço ou empresa? Quantas delas simplesmente fazem o contrário? Pois é. As que não fazem seu trabalho, muitas vezes acabam com o produto, queimam um serviço, sujam a imagem de uma empresa, colocando em risco o emprego de muita gente (inclusive o do Publicitário).

Raciocinem comigo: uma campanha mal executada, para começar, significa dinheiro do cliente jogado fora. Sim! Campanhas são investimento (dinheiro) e investimento significa “estou colocando dinheiro nesse negócio esperando ter algum retorno financeiro futuro”. Se a empresa investiu uma certa soma em Comunicação, ela espera que essa Comunicação a ajude a vender mais e melhor seus produtos ou serviços, por exemplo. Os milhares (ou milhões) investidos, se a Campanha não funcionar, não retornam à empresa, muito menos com lucro. O que significa, no português claro, dinheiro perdido. Por sua vez, dinheiro perdido para a empresa significa “perdi toda a grana economizada”ou, pior, “como vou fazer pra pagar aquele empréstimo?”

Não é preciso ser nenhum Matemático ou Economista para entender o que isso significa para a saúde financeira da empresa. Em suma, a situação aperta, a empresa tem que cortar gastos, demite-se empregados, que por sua vez passam a economizar (ou deixar de gastar); menos dinheiro passa a circular no mercado; outras empresas passam a sofrer com a perda (ou a não entrada) de dinheiro e têm que demitir seus funcionários e cortar gastos… Um ciclo vicioso. Isso porque eu só resumi meu raciocínio.

Viram o que uma simples campanha mal feita pode causar?

Agora, vamos elevar a potência dessa suposta megalomania publicitária. Imaginem um Publicitário incompetente num mundo em que não exista um órgão regulamentador da Publicidade e Propaganda, como o Conar. Ou pior: digamos que tal Publicitário seja extremamente competente, mas sem nenhum escrúpulo (nem mãe). A indústria do tabaco, neste mundo fictício, deseja atingir camadas mais jovens e suscetíveis ao hábito do fumo e contrata esse Publicitário. Se a Campanha dá certo, imaginem o crescimento de casos de câncer, enfisema pulmonar, aneurisma, impotência etc. Imaginem quantos pais passariam a arrancar os cabelos preocupados com o aumento do gasto com cigarros de seus filhos.

Parece piada, mas não é. Uma coisa que faço questão de frisar a todos os meus alunos é a importância da profissão para a qual eles estão estudando. Sempre peço para que eles ajam a vida toda com ética e responsabilidade com todo o conhecimento adquirido na academia.

Mas, como nós Professores não temos controle sobre os egressos, defendo, sim, uma regulamentação das profissões. De todas, inclusive da nossa e da de Publicitário. Não uma regulamentação feita nos moldes frankfurtianos (blargh!), nem com Veterinários da Anvisa achando que entendem de Semiótica. É preciso separar o joio do trigo.

É preciso mudar tudo, desde a formação básica das crianças, moldando cidadãos éticos e responsáveis, mas sem essa merda de febre politicamente correta. A seguir, voltarmos ao modelo de ensino na Graduação da old school e por aí vai. Mais Mestres e Doutores na lida! Mais pesquisadores e mais estímulos a esses! Pasmem, ouvi noutro dia um beócio defendendo a não obrigatoriedade do Mestrado e Doutorado na docência e o fim do Professor de carreira.

Concluindo, se querem regulamentar algo, que comecem pelo profissional responsável pelos profissionais: o Professor.

Ao mestre com carinho

Publicado: 20/06/2009 em EDUCACIONAL
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Aluno: – Professor, pode fazer a prova a lápis?
Professor educado: – Só se você acredita que eu não vou apagar…

Aluno: – Professor, é pra fazer a prova nessa folha?
Professor educado: – Não, a folha é pra fazer um origami!

Mais informações com o Cebola.