Arquivo de janeiro, 2011

Babaquices corporativas

Publicado: 18/01/2011 em NOTÍCIAS POPULARES

Hoje eu estava almoçando com a Kátia num restaurante na região da Berrini. O que mais tem em restaurante nessa área na hora do almoço é gente que trabalha nos escritórios da região.

Aí, inevitavelmente, a gente começa a ouvir as conversas das outras mesas (restaurante apertadinho, fazer o que?!) e acaba ouvindo um cancioneiro enorme de idiotices corporativas.

O cara da minha frente (parecia que estava tentando impressionar a moça com quem almoçava) soltou a seguinte pérola: “Eu não consigo me manter por muito tempo numa zona de conforto. Aliás, eu fujo da zona de conforto. Eu sou assim, arrojado…”

Tá aí uma coisa, juntamente com aquela excrescência do “copo meio vazio/ meio cheio”, que me irrita nessas coisas de PNL, leader-team e outros embustes de auto-ajuda corporativa. Se eu sou um empresário e ouço do candidato à uma vaga na minha empresa a frase sobre fugir de uma zona de conforto, descarto o sujeito na hora. Isso é praticamente que ir contra a natureza de qualquer ser vivo que tenha o mínimo de instinto de sobrevivência. Eu, Lelo, um ser humano (é verdade, juro), vou sempre procurar lutar pela minha sobrevivência, o que implica, inclusive, a procura de um lugar em que me sinta seguro, protegido. Estar protegido significa que minhas chances de sobrevivência são infinitamente maiores do que se eu estivesse exposto. Se estou protegido, me sinto seguro, consequentemente, me sentirei confortável. A tal “zona de conforto” que o beócio à minha frente disse evitar por ser arrojado.

Na minha terra, ele ganha um carimbo de suicida e com certeza, não o quero em minha empresa para afundá-la juntamente com seus delírios sobre arrojo.

Coincidentemente, ao ir para o trabalho hoje, ouvia ao Salomão Schwartzman narrando sua crônica sobre um caso corporativo interessantíssimo. Um presidente de empresa, numa reunião de diretoria, brada que ninguém é insubstituível. No meio do silêncio da platéia amedrontada, um diretor levanta a mão e pergunta: “E Beethoven? Também não é insubstituível? E Einstein? E Muhamad Ali?”

Pois é. O velho Salomão em poucos minutos sapateou em cima de um dos paradigmas corporativos mais cretinos dos últimos tempos. A justificativa dele foi feita em cima de outro paradigma: o tal do “busca-se talentos”. Que RH insano faria um processo seletivo para contratar para as fileiras de sua empresa um cara meia-boca, average, burro ou sem talento? É uma das coisas mais cretinas do mundo dizer isso num texto de processo seletivo. E daí? Contrata-se o “talento”, que fica uns dois anos na empresa e vai para outra empresa, sem um pio da direção. O que se faz? Procura-se outro “talento”. Bah! Duvido que o novo “talento” vai arrepiar como o anterior. Mas, pra quê tentar segurar o cara, né!?

Isso para não falar da porcaria do copo meio-cheio-meio-vazio…

 

Finalmente assisti ao Operação Valquíria! De fato, um pusta filme e que me deixou com uma vontade de ler os livros sobre o episódio que inspiraram o filme.

Bom, não vou me extender a respeito dos detalhes do filme, nem sobre a sua sinopse. Se quiserem algo do gênero, leiam Letters From Louis (aliás, L.E., por que não rolou uma crítica sobre esse filme?). Vou falar sobre uma reflexão que fiz a respeito do porquê a última operação para matar Hitler deu errado.

A princípio, o plano parecia infalível: o texto do plano Valquíria (que acionava a reserva do Exército no caso de algum problema) recebe algumas algumas alterações, legitimando os conspiradores como governantes interinos e com plenos poderes; elementos-chave para o assassinato são recrutados nos círculos mais próximos ao führer (ou plantados ali); a bomba é plantada no lugar exato e explode na hora certa; as comunicações da Toca do Lobo (local mais seguro para refúgio de Hitler e onde seria executado o plano) com o restante do mundo, são imediatamente cortadas ao se ouvir a explosão; Tom Cruise foge e Valquíria é colocada em prática, já que o comandante supremo estava morto e a SS “estaria tentando tomar o poder”.

A partir daí, tudo se desenrola perfeitamente, até que duas mensagens conflitantes chegam no centro de telégrafos do Reich: uma pedindo a prisão de Goebells, outra pedindo a prisão daqueles que, supostamente, estavam colocando a casa em ordem. E é nesse momento que tudo começa a dar errado: Goebbels fala diretamente com Hitler (wtf!!), as rádios passam a anunciar o golpe e dizer que Hitler está vivo, os rebeldes são presos e executados e fim da bagunça.

Quais foram os erros? Bom, pra começar, a bomba só arranhou Hitler, que saiu imediatamente do local da explosão; as comunicações da Toca do Lobo foram reestabelecidas a tempo de desmentirem os rebeldes; mensagens conflitantes passaram a chegar no centro de telégrafos, tanto da Toca do Lobo, quanto do Governo Interino; o mesmo centro decidiu retransmitir apenas as mensagens que chegavam de onde o führer estava.

Mas, na minha modesta opinião, a grande cagada foi não ter CONTROLADO a Comunicação. Os insurgentes estavam tão preocupados com detalhes bélicos, alianças, legislação e com apenas cortar a comunicação da Toca do Lobo, que esqueceram de um fator-chave para o golpe dar certo: a Alemanha nazista se fez pela Propaganda!

O episódio da central de telégrafos é a maior prova disso, ao lado do fato de terem deixado para prender Goebbels muito tempo depois:

– A central de telégrafos era a grande fonte de informações, inclusive para Propaganda. Apenas isolar a Toca do Lobo não era o suficiente. Hitler não tinha morrido, então, a primeira coisa que faria era abrir as portas do canil e soltar todos os rotweillers para colocar as coisas em ordem, inclusive “a porra deste telefone que está mudo, scheiße!!” O ideal não era ter apenas um homem de confiança nas comunicações da Toca, mas um também na central de telégrafos, que filtraria as mensagens de acordo com os propósitos da insurreição. Deixar as pessoas daquele setor no escuro favoreceu a confusão que, logicamente, seria dissipada com a volta do líder.

– O controle dos meios de comunicação era crucial também. Se as rádios tivesse sido invadidas pelos insurgentes, ou se os responsáveis tivessem sido cooptados antes, somente as notícias “oficiais” seriam veiculadas.

– Sabendo que Goebbels era o terceiro homem do Reich, mas o mais influente, ele deveria ser o primeiro a ser encarcerado. É sabido que o Ministro da Propaganda era um homem muito influente e bastante persuasivo (pudera…). Esquecê-lo foi de um amadorismo cartesiano sem tamanho.

Enfim, controlar a Comunicação como um todo era a chave para o sucesso, mesmo com a bomba tendo falhado. Mesmo com o homem vivo, nada como um bombardeio marcado para o local para resolver a coisa. “Insurgentes tomaram a Toca do Lobo e não houve reféns…” Simples assim. Mas, como sempre, a Comunicação é deixada para segundo plano.

Assim, termino meu texto com mais um exemplo da importância de se fazer uma boa Comunicação, além de alertar para as atuais tentativas de controle das comunicações pelo último governo. Com certeza, se levarem em consideração os lapsos retratados no filme, nesse novo governo a cavalgada das Valquírias está mais que garantida.