Arquivo de junho, 2008

Em 1999 fiz a minha primeira viagem internacional. Minha esposa (minha namorada na época) tinha dois primos morando na costa oeste e resolvemos aproveitar a oportunidade. California é um dos Estados com o custo de vida mais alto. E San Francisco, a cidade onde na época os primos moravam, era mais cara ainda. Mas, San Francisco é San Francisco. Que cidade linda! Quantos lugares, quanta história! E um dos pontos históricos é que me fez lembrar de uma história bem interessante,

Quando chegamos lá, não tínhamos guia, mapa, coisa nenhuma. Somente as referências que os primos nos deram. Eles não podiam nos acompanhar o tempo todo, pois trabalhavam durante o dia. Então, nos restava pegar um Muni qualquer e sair sem destino. Sem querer, numa dessas nossas andanças, caímos numa rua que tem muita história para contar: a Haight Street. Ela foi por muito tempo o epicentro do movimento hippie e muitos dos seus expoentes começaram a dar as caras por lá. A rua, na época em que estive lá, ainda mantinha sua aura alternativa, mas bem distante da ‘riponguice’ da década de 1970 (graças a Deus!). Muitas lojas de roupas bacanas e descoladas, muitos estúdios de tatoo e piercing, algumas galerias de arte, restaurantes e cafés bem legais e a loja de discos mais bacana que conheci: a Amoeba Music.

Dificilmente você achará lá qualquer uma dessas farofas que rola na Jovem Pan ou Transamérica. Mas esse não é o caso. Depois de passear pelos corredores e escutar e comprar um monte de sons que nunca havia ouvido falar ou que não achava em lugar nenhum depois de tê-los escutado há mais de cinco anos, era hora de ir ao caixa e pagar. Como já estava há alguns dias, confiei no meu ingês e tentei engatar uma conversa com a caixa, perguntando se, além do que estava levando, ela me recomendaria mais alguma coisa (os funcionários que trabalham lá realmente gostam do que tem lá). Como a maioria dos americanos, ao perceber que não era um nativo, me respondeu com certa frieza que o que eu levava já era legal o suficiente e encerrou a conversa dizendo o quanto eu deveria pagar. Enquanto separava o dinheiro, ela lança uma pergunta: “Plastic or paper?” Eu me lembrava que a palavra genérica para cartão de crédito ou débito em inglês era plastic. Mas paper para dinheiro? Sem pudor nenhum, perguntei num inglês bem xexelento se ela estava falando sobre a forma de pagamento. Mais uma vez, com aquela simpatia americana aos estrangeiros, ela me respondeu que se tratava do tipo de sacola que eu gostaria de levar meus CDs. Escolhi papel, não sei bem o porquê e fui embora. Em casa, um dos primos me explicou que havia uma onda de consciência ecológica assombrando a América há um bom tempo.

De volta ao ano 2008. Já tem um tempão, também, que o ecologicamente correto tem impregnado toda e qualquer tipo de relação, caso ou situação. Por exemplo, quando trabalhei na Ri Happy Brinquedos (de longe, o melhor lugar em que trabalhei, em todos os sentidos), no meu primeiro mês já detectei um problema: uma sacola grande da loja, rasgada no fundo, espalhando todo o lixo que estava dentro dela pela calçada de uma movimentada avenida de São Paulo. Como estava a pé, desacelerei o passo para observar a cena. Todo mundo que passava por ali, tinha que desviar do lixo e do saco, com um desenho colorido do Solzinho e letras vermelhas e amarelas gritando Ri Happy Brinquedos. Eu, pessoalmente, achei que aquilo depreciava a marca: um saco da loja sendo usado como saco de lixo. Além de ter me incomodado bastante por conta dos discursos recorrentes a respeito de conservação da natureza através da reciclagem.

Mas isso é inevitável. Atire a primeira pedra que nunca usou um saquinho de supermercado no lixinho do banheiro. Atualmente, algumas redes de varejo têm tentado fazer seus clientes a comprarem uma sacola personalizada para levar suas compras em vez do saquinho de plástico, por conta da tal onda ecológica. E essa tal onda ecológica vem causando um certo desconforto nas empresas produtoras do saquinho ou da sua matéria-prima. E apesar de toda apologia feita massivamente nesses últimos tempos, eu e quase todo mundo continuamos usando saquinhos plásticos. O fato é que, apesar do caso que contei acima e apesar do nosso sistema de coleta de lixo está um pouco melhor (comparada com a de Nápoles, claro), a onda ecológica também deve ser um estímulo para as empresas criarem outras maneiras (inclusive que não sejam cobradas) de seus clientes carregarem suas compras para casa. Não deve ser muito agradável ver sua marca boiando no rio Pinheiros, em meio a um monte de lixo.

Além de não ser ecologicamente correto, não é uma mídia muito recomendada.

Obs.: Imagem surrupiada daqui.

Stick Marketing

Publicado: 04/06/2008 em MARKETING
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adesivo de carro

Ontem, ao sair do meu prédio para levar minha filha à pediatra, um carro saiu de uma outra garagem, em marcha à ré, sem olhar para trás e em alta velocidade, quase batendo no meu carro. O desenrolar foi o de sempre: buzinas, sinais não muito amigáveis e caras feias. Nada além disso, ainda bem (pois atualmente, uma brecada ou buzinada pode lhe custar uma pancada com uma barra de ferro na cabeça ou um tiro…).

Durante todo o caminho, muitos outros “distraídos” e “donos de todas as faixas da avenida” cruzaram pelo meu caminho. Muitos deles, carros de empresas ou com adesivos fazendo publicidade de alguma empresa, site ou partido. Duas coisas me passaram pela cabeça durante o trajeto minha casa – consultório médico: cada vez mais tem gente comprando a carteira sem fazer exame e que daria um jeito de boicotar o que quer que estivesse sendo representado naqueles adesivos ou carros. Dito por mim, isso pode soar tendencioso, já que sou tido como uma pessoa não muito simpática com aqueles que pisam no meu calo. Mas, pensando um pouco mais friamente, isso que os carros adesivados fazem podem, além de incomodar um chato como eu, denegrir a empresa iconizada pelo aplique ou adesivo.

Essa conclusão estava sendo formada na minha cabeça já há um bom tempo. Me lembro de, quando tinha por volta de uns 22 anos, ter sido fechado por um carro completamente adesivado com propaganda de um deputado. Sem pestanejar, sentei a mão na buzina e disse algumas palavras amáveis ao aprendiz de piloto do outro carro. Não sei porque, mas o outro motorista não gostou e veio tirar satisfação. Após alguns segundos de trocas de insultos, finalizei a discussão com um sonoro “E pode ter certeza que nem eu, nem ninguém do meu círculo de relacionamento, votaremos na #%*&@ do seu deputado”. E, de fato, fiz questão de queimar o nome do tal deputado com todos com quem conversava.

Voltando para o presente, percebo que esse tipo de caso pode acontecer não só em épocas de Propaganda Eleitoral. Por exemplo, você está indo para o seu trabalho e é fechado por um carro adesivado com o logo da Brahma, tudo porque o motorista estava falando com o chefe pelo celular enquanto dirigia. Lá na frente, ele fecha mais uns quatro ou cinco e bate num ônibus lotado. Até o acidente, o motorista do carro da Brahma fez, contando com você, pelo menos umas cinco pessoas ficarem bastante “felizes”. Imagine quantas mais dentro do ônibus lotado! E os outros motoristas, pedestres e passageiros de outros ônibus que não se envolveram no acidente, mas que presenciaram o acidente (fora aqueles que, por conta da necessidade mórbida em ser testemunha ocular da desgraça alheia, passam beeeeeeeeem devagarinho pela cena). O comentário, queiram ou não, será: ” ‘Cê viu aquele carro da Brahma que bateu no ônibus e atrapalhou todo o trânsito na 23 de maio?!” E se o carro não fosse um carro, mas, sim, um caminhão carregado de cascos (eu e essa minha mania velha de usar gíria de velho)? Eu imagino uma cena aérea no SPTV, mostrando “um acidente envolvendo um caminhão de entrega de bebidas e um ônibus lotado” e que “o caminhão ficou atravessado e toda a bebida espalhada pela avenida”. Corta, passa para o link da repórter na avenida que mostra uma caçamba de caminhão tombada, com o belíssimo e colorido logo da cervejaria, bem grande, aplicado na traseira do caminhão, convenientemente captado pela câmera, num ângulo bastante privilegiado. O comentário não seria diferente do anterior, com a excessão que o ” ‘cê viu” viria precedido de “aquele baita caminhão da Brahma, que derrubou aquele monte de cerveja no meio da avenida e #$@%& com todo o trânsito”. Nos dois casos, o comentário foi referenciado pela cervejaria.

Me lembro como se fosse hoje, quando completei o ciclo básico no meu primeiro ano no Exército, o tenente comandante do meu pelotão dizendo que agora poderíamos voltar para casa, que poderíamos andar na rua corretamente fardados e que, a partir daquele momento, teríamos que ter muito cuidado e atenção com nossa conduta, pois éramos representantes do Exército Brasileiro. Se fôssemos apanhados fazendo qualquer besteira, não era o Aluno Brito, mas, sim, “aquele militar do Exército” que agiu errado. Além desse último caso verídico e dos outros dois fictícios anteriores, vocês já devem ter ouvido ou presenciado muitas outras histórias parecidas.

O ponto em que eu quero chegar é que muitas empresas, sejam elas quatrocentonas ou iniciantes, acham que basta colocar um adesivo bem posicionado no carro, ou envelopá-lo com a identidade, cores e marca da empresa. A marca ficará, em alguns casos, satisfatoriamente visível. Com alguma sorte, no caso daqueles adesivos que ficam ao lado do que costumo chamar de Nossa Senhora do Capô, a marca ficará registrada em algum canto obscuro da mente, até que seja recuperada por alguma sinapse absurda. Da mesma maneira que o motorista do veículo, que estava fazendo um monte de barbeiragens, falando ao celular, estacionando em algum local proibido ou causando um acidente.

É preciso ter em mente que, para que a lembrança desejada surta o efeito desejado, todos os aspectos devem ser levados em consideração, como atitudes do condutor do veículo, condições do veículo etc. Não basta atribuir a responsabilidade apenas aos adesivos.